Hello, Jack

Imerso em um lugar recheado de pedaços de um mundo que nunca teve, Jack (Jacob Tremblay) nem sabe o que está perdendo e entre "bons dias" vazios, seus cinco anos de vida estão para sofrer uma mudança drástica. Este é Room (O Quarto de Jack).


A minha relação com Brie Larson é antiga. Para quem não sabe, a moça tentou ser uma dessas Mady Moores da vida, ou seja, tentou a carreira de cantora e de atriz simultaneamente, mas ficou apagada nas duas. Eu ainda estava no colégio, quando a ouvi cantar "Life After You" e achei super catchy, daí "She Said" e "Go Your own way", não muito tempo depois, fez Sleepover como coadjuvante e demorou muito tempo para que eu a visse novamente nas telas. Até que ela foi coajuvante em Anjos da Lei e ano passado fez Descompensada (que ainda vamos falar sobre aqui) e O Quarto de Jack, sendo indicada por este ao prêmio de Melhor Atriz no Oscar, já levando o Globo de Ouro pra casa, na mesma categoria. 
Ok, mas porque demos início a esse post sobre o filme, falando especificamente sobre Brie?
Começa pelo fato de que acho que ela é a grande favorita nessa categoria. Apesar de não achar que ela mereça (por ser o primeiro papel, realmente expressivo de sua carreira -daí o levantamento), penso que entre todas as concorrentes deste ano, Brie foi a que mais surpreendeu a academia. Não era esperado dela dar uma interpretação tão forte e significativa. Ainda mais num filme em que, basicamente, estão ela e o maravilhoso Jacob Tremblay.

Mas olha só como são as coisas, Jacob é a grande alma d'O Quarto de Jack. Ele que dá o ritmo à narrativa, ele que rouba a cena quanto aparece e, principalmente, ele que dá sentido a esse filme um tanto psicológico, um tanto emotivo. Jacob é, verdadeiramente, uma criança. Passa pra nós a essência da infância, a delicadeza da inocência e a magia de descobrir o mundo ao seu redor, sem perceber a importância que tem na vida da mãe. Ele é a sanidade dela. Simplesmente: Bravo!
Engraçado também, pensar que esse ano temos dois filmes feitos em lugares diferentes, mas que guardam algumas semelhanças entre si, principalmente no que se diz respeito à parte infantil. O Menino e o Mundo (que já falamos aqui) e O quarto de Jack tem propostas bem parecidas de descobrimento de mundo e se jogar nele, no entanto suas narrativas (apesar de tratar de família) seguem por caminhos bem distintos. Enquanto que n'O Menino e o Mundo existe uma sobreposição de técnicas de animação para promover tal descoberta, em O Quarto de Jack o efeito é alcançado pelo alargamento de cenários, numa percepção subjetiva de Jack.
Como assim?
O quarto em que ele e Joy estão presos, no começo do filme parece enorme. As paredes parecem distantes umas das outras, quase como se existisse um cômodo dentro do outro. Assim como o armário de Jack, que tem cara de ser espaçoso e amplo. Conforme o garoto encontra o mundo, esse quarto parece pequeno demais, porque o desconhecido ficou grande demais. Jack se sente tragado, curioso, mexido e, ao mesmo tempo, encantado com tanta novidade e esses sentimentos são transmitidos através de uma câmera que, às vezes é subjetiva e às vezes é contemplativa, mesmo que sem grandes viradas ou novidades no enredo.

Agora, imagine você ficar sete anos preso em um quartinho mínimo, sofrendo abusos consecutivos (tanto verbais, quanto físicos), sem ter a opção de ir embora...parece aterrorizante, não é verdade? Pois é, mas um dos grandes trunfos desse longa, é justamente o de não cair no discurso de auto-piedade, muito menos na aura perturbadora do assédio e da violência - não que esses detalhes não sejam abordados na narrativa, porque são, só que a escolha de um tom mais delicado e dedicado à relação de Jack e Joy, bem como a forma como eles abordam o antes e o depois deles sairem do cárcere, dá à narrativa fílmica mais peso e, na minha opinião, deixa o filme mais humano, porque conseguimos nos colocar naquele lugar. 
Com um roteiro adaptado da obra homônima de Emma Donoghue, O quarto de Jack é, provavelmente, um dos filmes mais delicados que temos na temporada deste ano. Ao tratar da infância de um jeito bastante intimista, a história leva-nos a nos reconectarmos com as crenças que tínhamos, bem como a nossa forma de ver os acontecimentos, já que é Jack, com os seus cinco anos e crente de que 'sabe de tudo', quem nos conta os fatos, chegando, ele mesmo, à conclusão de que: "Tem tanto mundo, que o tempo não dá conta e tudo tem que ser feito com pressa e cada vez mais rápido".
Pitacos: O Quarto de Jack concorre às estatuetas de Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor atriz e Melhor roteiro adaptado. Deve levar a de Melhor Atriz para Brie Larson.

*O Quarto de Jack está na minha lista de 24 filmes para 2016, proposta pelo Blogs que Interagem, na categoria Infância.

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