Em casa

Saoirse Ronan (altamente elogiada no post sobre 30 atores com menos de 30) é a grande estrela do filme Brooklyn, que fala sobre a vontade de encontrar um lar e a necessidade de construir a vida que se imaginou para si.

Sair de casa. Aparatar. Mudar da sua zona de conforto. Migrar. 
Questões que tem se tornado muito debatidas em termos políticos, principalmente no leste europeu e no oriente médio; lugares que, em constante conflito, colocam seus povos em situações como estas, tornando-os refugiados. Mas não vamos falar de atualidades, e sim de Brooklyn, o adocicado longa-metragem de duas horas, que vai lá pra década de 50, contar a imigração de Eilis Lacey (Saoirse Ronan) para Nova York, onde uma grande quantidade de Irlandeses (assim como ela) moram e trabalham, especificamente no Brooklyn. 
O filme é baseado no romance homônimo de Colm Tóibín e um dos trunfos deste, foi o de justamente conseguir nos arrebatar para o centro dessa adaptação, trazendo os aspectos mais relevantes dessa narrativa, enquanto se deixa englobar pela maestria de interpretação de Saoirse. Na narrativa, o que impera é o sentimento de querer se adequar, de querer mudar de vida e a terrível sensação de que se desejar estar em dois lugares ao mesmo tempo. 
E entre as questões mais importantes de Brooklyn, a que mais se destaca para mim é o tema: lar. O que é lar? Quando você sente que, verdadeira está no seu lar? É uma certeza que, simplesmente, aparece? Bom, se você acha que Eilis vai te responder essas questões, aviso que não. Pelo menos não exatamente. Como o bom filme sobre "seguir um caminho diferente" que o é, o segundo grande detalhe do filme, é o de tentar construir com Eilis os caminhos de descoberta dessas indagações, assim como se deixar apaixonar por uma vida construída por si mesma e não por outras pessoas, ou expectativas alheias.

Cheias de nuances que demoram para serem descobertas, a Eilis de Saoirse é encantadora, amável e elegante, mesmo que em diversos momentos ela se pareça com um pobre menina ingênua. Isso porque Saoirse dá um tempo preciso para que as fraquezas de sua personagem apareçam, de modo que quando ela as ultrapassa, é quase como se uma grande amiga nossa a estivesse fazendo. Assim como, eu posso afirmar de modo extremamente pessoal, só quem já saiu de casa, entende o olhar que ela dá para cada parte de sua antiga vida, como se tomasse ar para uma nova realidade e como se pudesse levar consigo as fotografias cerebrais de um passado não tão distante, mas que quando se retorna parece que faz anos-luz. E SE retorna, perguntando se 'retornar' é a palavra certa.

Porque não se quer perder as macarronadas, aulas e sorrisos de estranhos? Porque não se quer voltar para o conhecido, o esperado e o antigo?  
Sendo, para esta que vos fala, o Whiplash da temporada, Brooklyn tem uma estética doce, apostando em cores suaves, figurinos simples e uma história singela, sem grandes momentos, mas que ganha fôlego e força graças a uma protagonista arrebatadora em uma narrativa relacionável, principalmente se você já saiu de casa.
Pitacos: Brooklyn está concorrendo nas categorias de Melhor Filme, Melhor Atriz e Melhor Roteiro Adaptado. Não acho que leve nenhuma delas, mas eu ficaria muito contente se Saoirse conquistasse a Academia, como me conquistou. Talvez tenha chance em Roteiro Adaptado, se A Grande Aposta não levar.
Veja a lista completa dos indicados.

*O filme também faz parte da minha lista de 24 filmes para 2015, do Blogs que Interagem, na categoria Imigração

Um comentário

Beatriz disse...

Já tinha selecionado esse filme para o mesmo tema dos 24 filmes, e esse seu post me deixou com mais vontade de ver. Só vi a Saoirse em A Hospedeira e O Grande Hotel Budapeste, espero gostar dela aqui tanto quanto gostei nos outros!

Beijos!
Vestindo o Tédio