Crônicas de Viagem - IV

Fotografia da minha janela na última viagem

E dizem, alguns pesquisadores da histíra da imagem, que a fotografia perdeu o seu status inicial, se é que poderia ser chaamdo de status. Bom, esse tal status era o que se referia ao fato de que no início, a fotografia era ligada diretamente à sua funcionalidade. Era uma forma de registrar o movimento das coisas, o que inclui a forma como os seres vivos se mexiam, à trajetória que objetos faziam ao serem lançados, ou caírem. Fora que também tinha uma utilidade médica, que basicamente atribuia à fotografia a possibilidade de averiguar mudanças físicas que um paciente passava, ao passar por um tratamento, ou se existia algum aspecto físico em pacientes psiquiátricos, sendo até usada para verificar 'possíveis' psicopatas.
Isso tudo parece meio chato, né?
Especialmente se a gente pensar em obras feitas por grandes fotógrafos, como Bresson, Salgado, Annie Leibovitz, Vivian Maier, entre tantos outros..., ou como é possível tornar um retrato incrível, mesmo que de forma amadora, sendo necessário apenas um olhar, ou um ponto de vista, que faz com que o simples, se torne marcante.
Agora, magia mesmo era o que o avião começou sendo. Os pioneiros da tentativa aeronáutica, em qualquer lugar do mundo, pareciam particularmente encantados com a possibilidade de voar. Voar como os pássaros, tocar o céu como Ícaro e ver o mundo todo de cima. É difícil, inclusive, você ver em discursos ou comentários atribuídos à eles, alguma menção quanto ao aspecto mecânico e meramente funcional do avião. Se voava pela mesma razão a qual se assiste a um filme, ou se lê um livro pela madrugada. Voava-se pelo prazer. Pelo espanto, Pela adrenalina.
Voava-se pela experiência e pela lembrança de como nós, em toda a nossa complexa, porém ínfima existência, podemos ser responsáveis pelos atos mais interessantes, modificadores e bravos.
Bravos de Valente. De nobre.
Mas a gente passou mesmo por uma inversão de valores. Em algum lugar, a aeronáutica se encontrou com a fotografia, apenas para que mudassem suas fisionomias. Viraram uma espécie de reflexo frouxo do que a outra era capaz de fazer. Frouxo, porque o voar nunca será o mesmo que capturar um singular momento, e se locomover pelo ar, nunca será tão simples quanto fotografar. Mesmo que isso pareça lógico, não é verdade?
Talvez seja, mas vez ou outra somos os afortunados que dividem a aeronave com uma família que está voando pela primeira vez. Uma família que, tá, não sabe muito bem como se comportar em meio a tantos avisos de atar os cintos, ou luzes que acendem do nada. Uma família que, provavelmente nunca pôde realizar essa 'proeza' de se sentir como Ícaro, tentado à chegar bem próximo do sol, mas é uma família que, definitivamente, te lembra desse sentimento.
Do encantamento e total embasbacamento. Do de entrega e de ser completamente refém da sensação de incredulidade. O frio na barriga e a doce questão: "eu to realmente voando, mãe?".
É, as vezes a gente se encontra num desses raros momentos em que alguém ainda se maravilha com o mundo, achando que ele pode ser tão mágico quanto a vista da janelinha.

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