Crônicas sobre o crescimento

Com um ambicioso projeto de 12 anos, "Boyhood" conquista muito mais pela proposta do que pela história em si, já que prima por um caminho que, de tão banal, é completamente relacionável, especialmente se você, como eu, foi criança/pré-adolescente no começo dos anos 2000.

Mason Jr. (Ellar Coltrane) é o filho caçula de uma relação que começou na adolescência, entre Olivia (Patricia Arquette) (amei o nome) e Mason (Ethan Hawke). Eles engravidaram de Samantha (Lorelei Linklater) e logo depois de Mason, isso quando Olivia ainda estava com 23 anos. Não é difícil imaginar que depois dessa série de gravidez numa idade tão jovem, Olivia e Mason não deram certo, logo, Sam e Mason Jr. são frutos de um verdadeiro relacionamento contemporâneo, por assim se dizer, onde papai e mamãe não moram na mesma casa e você acompanha os dois tendo relacionamentos com outras pessoas, sem ter a real noção se aquilo irá para frente.
A infância de Mason é marcada, assim, pela completa instabilidade de uma mãe que se esforça continuarmente para dar conta de todos as suas obrigações e deveres; e de um pai ausente/presente, que se esforça continuarmente para fazer parte de uma família que não parece ser mais sua. E assim, acompanhamos o tema principal dessa película de quase 3h de duração: o crescimento.

O crescimento em todos os sentidos possíveis, físico, mental, comportamental e por aí vai.
Vemos um Mason passar por diversos estágios de uma vida completamente comum, sem grandes coisas acontecendo, apenas aquilo que um menino passaria, normalmente. Ele se muda bastante (na busca de sua mãe em encontrar algo melhor), conhece e faz diferentes amigos em diferentes estágios da vida, vê sua mãe entrar de cabeça em vários relacionamentos furados, vê seu pai se tornando aquilo que ele já deveria ter sido antes, vê sua irmã indo para a faculdade e vê a si mesmo conquistando diversas aptidões, metas e indo atrás de novas realizações, ao encontrar onde quer explorar a sua própria voz.
É impressionante, de fato, o tempo que o filme se dedicou a ser gravado, só de pensar que todos os anos uma equipe gigantesca se reunia para gravar algumas cenas de um longa que só ficaria pronto muitos anos depois, me faz perceber o quanto eram pessoas envolvidas e crentes neste projeto. Ethan Hawke já havia participado de algo semelhante na trilogia "Antes do amanhecer", que teve gaps de mais ou menos 15 anos entre um filme e outro. Já o diretor Richard Linklater, que é co-autor da obra, mostra o quanto é persistente, jogando as suas fichas e o seu nome nesse ambicioso projeto, que só foi possível graças a uma equipe de produção executiva, que investia todos os anos.

Em termos técnicos, o filme não tem nada demais, mas sua montagem é elegante e não usa de caracteres para saber onde estamos e quanto tempo se passou. A própria história e a forma como ela é contata que se responsabiliza por isso. Novamente, quem cresceu no período retratado do filme, consegue identificar perfeitamente que recurso é utilizado para contar a passagem do tempo, além da óbvia aparência de seus personagens: a cultura pop. Particularmente, me agradou muito eles usarem referências como Britney Spears, High School Musical, Harry Potter, Dragon Ball Z, entre outros tantos, que são extremamente reconhecíveis e, em conformidade com o filme todo, relacionáveis.
É de cair o queixo quanto Ellar ficou parecido com um jovem Ethan Hawke e como todos os personagens tiveram os seus caminhos muito bem desenhados pelas equipes de cabelo e maquiagem. O figurino, é claro, segue os anos que também se passam no enredo, assim como objetos, cenografia e demais elementos que não passam despercebidos, uma vez que são importantes para que a história cresca.

Para mim, "Boyhood" se trata de uma série de crônicas de uma geração que sabe exatamente o que não quer, mas que sofre sob a influência de diversas possibilidades, não sabendo o que deve, quer ou mesmo sonha em ser. Os interesses são tantos, mas por isso mesmo é uma geração que percebe o tempo passando, sem ter muita certeza que próximo passo dá, ou "pior" que dá o próximo passo esperando ter a resposta daquela pergunta, que nem ela mesmo sabe qual é. 
Pitacos: Concorrendo a 6 oscars, incluindo Melhor Filme, Melhor diretor, Melhor Ator e Atriz Coadjuvante, é o franco favorito nas categorias de Melhor Filme e Melhor Atriz Coadjuvante. Melhor Filme seria muito mais por conta do fato deste ser um filme de produtor, que manteve a chama da ideia acesa e como antigamente o prêmio de Melhor filme era dado nessas condições, é possível pensar que haja um retorno aqui. Patricia Arquette ganhou o globo de ouro nesta categoria, então é possível que ela ganhe também, mesmo que esteja concorrendo com Meryl Streep. Acho ele um forte concorrente a Roteiro Original. Vamos ficar de olho.
Confira a lista completa dos indicados

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