I am. I will.

Primeiramente eu gostaria de falar com você. Sim, você que, assim como eu, acompanhou cada pedacinho de divulgação desse filme. Que aguardou ansiosoo por qualquer novidade, seja ela em vídeo, em fotos, em tuites, em app...você que conseguiu o suado e disputado ingresso de pré-estréia e se sentou entre tantos outros fãs (além de alguns perdidos), em uma sessão lotada, se sentindo importante e confidente dessa revolução. Um verdadeiro tributo. É para você que eu escrevo esses apontamentos sobre "Jogos Vorazes: a esperança - parte I". É para você que eu escrevo, pois é bem possível que você discorde de mim em alguns pontos, justamente pelo seu lado fã, um lado que quase me dominou e que quase me fez acreditar que esse filme é, como uma adolescente que sentou ao meu lado durante a sessão disse: "o mais fodástico até agora!".

Sim, querido fã. Eu discordo. Mas antes de você fechar a sua janela e me levar como traidora, deixe-me dizer que não estou dizendo que o filme é ruim. Que não vale a pena. Que foi um marketing enganoso. Não estou falando isso. Apenas, e por mais que me aperte o coração dizer isso, eu esperava mais!
Já está mais calmo, fã? 
O que eu quero dizer com "esperava mais", você deve estar se perguntando. Vamos lá.
Quero dar início aos apontamentos, afirmando categoricamente que se trata de um filme tecnicamente bom. A cenografia nos ambienta dentro desse mundo rígido e cinza dos militares do D13, também ficamos inebriados com as imagens externas e aqueles bosques, lagos e belas paisagens que se encontram nos momentos de desenvolvimento psicológico de Katniss. Também é impossível não deixar de falar da história em si, que é o que nos conquista em primeiro plano. O fato de se tratar de uma crítica social, um futuro distópico e ao mesmo tempo que clama por esperança. A história não é, de modo algum denegrida neste filme e o mérito de que os filmes estão fazendo jus ao livro continua, assim como anteriormente. As belas sequências das insurgências que eclodem como resposta às propagandas do D13 são sabiamente elencadas e lindamente filmadas, usando recursos de primeira. Definitivamente, é um filme que cumpre o seu papel.
Mas também é aí que ele me perdeu.
Sim, porque nós acompanhamos uma série de histórias baseadas em sagas literárias que tiveram a sua última parte dividida em duas, de modo a ter mais tempo para explorar, tanto as suas nuances narrativas, quanto suas vantagens econômicas. E isso não é nada ruim, até porque para você e para mim, querido fã, sabemos que temos mais tempo par usufruir dessa tão adorada trama. Porém em Jogos Vorazes, fiquei com a sensação de que essa primeira parte poderia ter sido reduzida, resumida e o livro todo poderia ter sido adaptado em um só filme de 3h, do que um o filme meio arrastado de 2h15 que acompanhamos. 

Arrastado, mas rápido. Como assim?
Bom, ele prima por tomadas alongadas, justamente para mostrar essa confusão psicológica da personagem, em não saber muito bem para que lado seguir, quem confiar e se tem condições de ser esse símbolo de uma revolução promovida em Panem, contudo, ao mesmo tempo em que as cenas são alongadas, quase não temos a noção de dias correndo, tempo passando e todas as transições acontecem de modo muito brusco (perceba, essa era a proposta do filme, não estou dizendo que a montagem ficou ruim). Esses recursos acabam deixando a gente com a impressão de que a história dessa primeira parte foi breve, que não houveram grandes momentos e que, como falei, o último livro todo poderia ter sido traduzido em um filme.
Seguindo a diante, as partes que mais me agradaram no filme, foram as partes que mais me agradaram no livro. Esse jogo midiático inteligentíssimo abordado de modo muito intenso na obra original e tratado com destaque na película, reforça o trabalho anterior feito (e acompanhado aqui) pela Lionsgate, que reforça o fato de que o filme nem começou e nem vai terminar nele mesmo. Há aqui uma sinergia midiática e publicitária que está sendo mantida pela franquia, de modo que aqueles que se dispuseram a acessar e a aproveitar tais recursos, se encontraram em uma posição privilegiada, não apenas de participantes dessa revolução, mas também como um verdadeiro "tributo". 

Agora, 'esteje' avisado que se você está indo ao cinema para ver uma guerra civil generalizada e de escalas farônicas, vai perder o seu tempo, já que o que se trabalha nesta obra são duas coisas: 1 - a entrada de Katniss de cabeça nessa revolução e a sua luta pessoal em decidir se esse é o melhor caminho a seguir; 2 - o gatilho, ou melhor, a flecha inicial de todo esse movimento contra-ditatorial, que viemos falando tanto por aqui, durante o pré filme.
Por ser um filme que se atém ao resgate dos Vitoriosos e à essa guerra midiática que falamos, os persoangens, tanto os que já conhecemos, quanto os que passamos a conhecer agora, não tem tanto espaço para se sobressaírem. Se você parar para pensar, fã, no seu coleguinha que nem é tão fã assim, parece para você que ele ficou tão encantado com Cressida e companhia, quanto você? 
Jen Law continua, habilmente, com a sua Katniss de faces independentes, quase frias e esquivas, mas que se mostra uma verdadeira heroína, vívida e beirando o altruísmo. Gostaram tanto do olhar dela na câmera, que marcou lindamente a segunda parte da história, que finalizaram o filme de modo semelhante. 
Philip Seymour Hoffman - What a guy! Ele encarna novamente o marketeiro de primeira e que compreende de modo decisivo como uma guerra midiática pode ser muito mais importante do que uma guerra em si. Ele manobra a revolução para ganhar desenhos precisos e sua atuação extrapola o brilhantismo. Com toda a certeza fará muita falta na parte II.
Julianne More me provou que era a melhor escolha para Alma Coin, apesar de eu estar um pouco temerosa com ela no começo, penso que ela conseguiu transitar entre os dois extremos que poderia cair (do bem e mau) e nos trouxe uma presidente consistente, interessante e crível, mas que com certeza tem os seus esqueletos no armário.
Effy (Elisabeth Banks) e Haymitch (Woody Harrelson) continuam como dois dos personagens mais interessantes e complexos da saga, mesmo que, entre discursos inflamados e uma série de explosões, eles não tiveram tanto destaque nessa parte, é de certo que eles são decisivos para o desenvolvimento de Katniss e a sua entrada na revolução.
Inclusive, a figura do herói que, além de altruísta, está à frente de uma revolução de proporções nacionais, foi deixada muito a segundo plano, para que você compreenda quem é a pessoa por detrás do Tordo. Essa pessoa, que entende depois de um tempo que, na verdade, está sendo manipulada emocionalmente e vendida como um peão bonito o suficiente par ser a cara estampada nos cartazes a favor da revolução. E isso vai além do que foi mostrado nesse início, espero que seja resgatado na segunda parte. Assim como um detalhe que eles, apenas tatearam nesse momento, que é o famoso "os fins justificam os meios" somado à ideia de "dois pesos, duas medidas", onde, para desmontar um regime ditatorial, os "mocinhos" tiveram que se aliar a outro regime, com tantas regras quanto, porém que discursa sobre uma vontade de democracia e igualdade. É importante se perceber que o discurso de união, tratado por Snow, é tão animador e bonito quanto o de mudança de Alma, mas o de Snow não tem mais tanto peso, porque essa realidade já é conhecida. O que garante que se o levante for bem sucedido, Alma não será uma ditadora também?
Bem e Mau não existem de modo maniqueísta, quando falamos do ser humano.

Para finalizar esses apontamentos, trago a célebre frase de Katniss "I am. I will". Esse filme está no I will. Espero que o segundo seja I am. 

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