Melancolia em Candy Color

Com uma estética requintada e ótimo elenco, a delicadamente envolvente comédia O Grande Hotel Budapeste, é trazida por Wes Anderson e sua melancolia dosada através de cores fortes e um ritmo acelerado.

O Grande Hotel Budapeste é um daqueles filmes que te levam a apreciar todas as partes formadoras de uma obra. Desde o seu enredo, passando pelos seus personagens, maquiagem, cenário e figurino, até chegar na composição completa, onde a gravação das cenas é primorosamente realizada, ao mesmo tempo em que o pós produção (edição, sonorização, etc) deixa a sua assinatura de maneira significativa, dando algo há mais para ser visto na telona.
Através de cenas rápidas e um esquema de história sendo contada dentro de outra(s) história(s), Anderson nos leva por  três momentos que poderiam ser chamados de metasnarrativas, uma vez que uma está dentro da outra, fala da outra e nos faz compreender o que aconteceu na anterior, como um livro de popup, que entrega os seus mistérios de modo pontual e preciso.
Livremente inspirado nos textos do escritor austríaco Stefan Zweig (que morreu em Petrópolis nos anos 40), Anderson construiu um narrativa, onde conhecemos um punhado de personagens complexos e interessantes que tem suas vidas entrelaçadas por conta do hotel, mas também por conta de M. Gustave (Ralph Fiennes) e Zero (Tony Revolori e F. Murray Abraham) que convergem todos os acontecimentos para si mesmos. É assim que Anderson brinca com o fator 'tempo' e é necessário prestar atenção para não perder o caminho que está sendo seguido, uma vez que não fica claro tudo a todo o momento. Talvez seja por isso que algumas pessoas tenham achado a história tão complicada. 
Assim como é de praxe de Anderson, temos personagens solitários em suas próprias melancolias, espaços simétricos, cenas que acontecem fora da cena, cores fortes que se misturam entre si e uma trilha sonora de se cair o queixo. Pelos olhos do diretor, percebemos que apesar de ricamente pensada, a estética do filme ajuda a contar a história e não a domina, como podem pensar alguns desavisados que criticam o modo de narrar escolhido por este diretor. Uma das coisas que mais chamam atenção é falsa feiura dos personagens que, a principio podem ser considerados esquisitos e exóticos, mas esse descuido com a aparência, nada mais é do que o modo encontrado pelo diretor para ressaltar essa tristeza.
Saiorse está novamente brilhante em mais um papel peculiar de sua carreira (vide "How I live now" e "Violet & Daisy"), onde mostra porque é tão querida na hora de fazer personagens interessantes. O novato Revolori nos encanta e diverte, por conta de seu personagem que quase beira a ingenuidade. Mas a estrela do filme é Fiennes, que nada mais faz do que entregar, constantemente, brilhantes interpretações de um papel que foi contruído para ele. O M. Gustave dele é charmoso, profundo, vive em um mundo criado por ele mesmo e é um dos poucos homens bons que ainda existem no mundo, segundo Zero.
Apesar da tristeza e melancolia, O Grande Hotel Budapeste diverte longamente e oferece um banquete sensorial para quem se deixar levar por esta história. 

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