Novo Crepúsculo?

Bom, é assim que a divulgação de "Dezesseis Luas" está sendo feita. Como a descendente direta da lamentável, porém muito bem sucedida saga de Stephanie Meyer.

Primeiro acho interessante parar para pensar um pouco sobre como esses seres chegaram ao High School e parece que não sair mais de lá. Pelo que me lembro esse tema é recorrente desde meados da década de 90, quando uma caçadora de vampiros dormia pouco matando seres sobrenaturais e uma bruxinhas atrapalhada se metia em cada mancada, sempre aconselhada por seu gato preto Salem. De uma forma ou de outra, desde Buffy e Sabrina, cada vez mais nos encontramos apertados em um mundo onde o sobrenatural e a puberdade estão juntos num só pacote. Quando isso não acontece, são diretamente conectados à libertinagem e romances tórridos.
No entanto, e eu digo isso com muita alegria no coração, uma grata surpresa espera aqueles que esquecem seus preconceitos adquiridos com Crepúsculo e se aventuram em assistir "Dezesseis Luas".
Não, não pense você que o filme é algo inestimável e imprescindível de ser assistido no cinema, mas "Dezesseis Luas" surpreende por sua história de boa qualidade e seus personagens interessantes, e para quem, assim como eu, foi ao cinema sem qualquer expectativa e com certeza saiu com uma boa impressão do longa, e curioso para ler a obra original (caso não tenha lido ainda).
Basicamente, a história é um clichê ambulante e pode ser descrito como: um garoto de uma cidade pequena, se apaixona pela garota esquisita e com um passado misterioso. Eles vivem um romance cheio de altos e baixos, mas descobre-se que não podem ficar juntos por algum motivo sobrenatural. Ah sim, um dos dois tem algum poder incrível (substitua "poder incrível" por vampiro, anjo, bruxo, lobisomem...). Porém, "Dezesseis Luas" consegue amarrar a história e esse é o ponto que, principalmente, diferencia esta obra da de Stephanie Meyer. 
O filme, com quase 2h e meia de duração nos leva a passear por uma história de amor que se encontra balanceadamente com uma história de magia, onde ao fazer 16 anos um conjurador (ou feiticeiro) é chamado para um dos lados da "força". Ou ele será levado para o lado da luz, ou para o lado das trevas, sendo assim sua verdadeira natureza é despertada e talvez ele não pareça em nada com o que era antes da transformação. Só que com Lena a coisa é mais complicada, pois, sendo a filha da grande conjuradora das trevas, ela se encontra em meio a uma maldição e um romance intenso com um mortal.
A película segue, provando como o amor dos dois adolescentes é forte e o quanto eles estão destinados a ficarem juntos, mas mesmo com esse "lugar comum", o filme não deixa de ter algumas conversas inteligentes e muita interpretação dúbia. O casal se apaixona por quem são e entre bate-papos provocadores, o olhar afetado e esquisito de Edward Cullem fica envergonhado. Inclusive diálogos muito bem dirigidos por um galã adolescente que foge dos moldes "pré-determinados" e uma esquisita nada afetada, forçada e sem graça. Uma heroína de verdade! (pelo menos do que se espera desse tipo de história).
Além da própria história, o filme tem uma plasticidade muito linda. Uma espécie de gótico chique, onde figurinos, cenários e maquiagens dão o tom de excelência e bom trabalho visual. Os atores, muitos deles conceituados dão à trama um tom bem mais profissional do que era esperado e isso, aliado à todas as cenas que são construídas em um clima de constante mistério e magia, dão uma qualidade superior à Dezesseis Luas, se comprado a outros filmes "farinhas do mesmo saco". O filme só dá uma balançada mais forte na sua segunda parte, que chega a cansar um pouco, e as cenas de bruxaria entre Lena e Ridley, que ficaram bastante caricaturadas.

Vale ressaltar o trato do bem e mau dado na história. À princípio ela parece completamente preto no branco, ou seja, quem é bom é bom e quem é mau é mau. Não existe meio termo, quando a verdadeira natureza é despertada. No entanto vale a dica de prestar atenção na discussão (meio que entrelinhas) que a história levanta. Lena é a mais poderosa, não porque é filha de Sarafin, mas porque aceita seu lado das trevas, juntamente com o seu lado da luz. Penso que a sua personagem busca, muito mais o equilíbrio, do que a total entrega.
Outra questão interessante, também tratada de modo sutil é a questão do destino. Fica um pouco claro que todas as relações e enlaces que acontecem na trama são obra de algo pré-determinado, inclusive o romance de Lena e Ethan. O que não fica claro, porém, é se esse tema será desenvolvido mais à frente, já que ele pode dá muito pano para manga.
Triste, no entanto, pensar que uma história como esta está sendo vendida como "novo crepúsculo". Penso que talvez seja pela baixa bilheteria nos EUA, o que arrisca colocar o filme e seus projetos de sequência na geladeira por tempo indeterminado. Porém, está feito! E não, Dezesseis Luas não é o novo Crepúsculo. 

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