28/10

Em comemoração ao Dia Internacional da Animação, achei interessante trazer para o blog um pouquinho da história desse tipo de fazer cinema que muito me encanta, e que também penso encantar a muitos.

Como devem saber, meu trabalho de pesquisa é basicamente focado na Animação de Walt Disney, mas é bem verdade que antes dele tiveram muitos outros cineastas, assim como depois a animação conseguiu se ampliar e viabilizar tantas outras formas que hoje são as mais conhecidas. Assim como outras formas, diferenciadas e não tão comuns de se fazer animação começaram a se propagar pelo mundo possibilitando misturas interessantes e até ousadas.
*É certo que a animação é tão antiga quanto o próprio fazer cinema, porém só em 1906 que o artista plástico James Stuart Blackton realizou o primeiro desenho animado, Humurous Phases of funny faces. Segundo Alberto Lucena Junior (2005), apesar deste filme ter sido uma espécie de marco inicial do cinema de animação, ele não era completamente animado, pois possuía algumas falhas técnicas que o impediam de ser.
A animação aplicada inteiramente em um curta metragem só foi possível dois anos depois com o Fantasmagorie do caricaturista francês Emile Cohl, isso sem falar de Winsor McCay que foi o primeiro a colocar humor nos desenhos animados e estabeleceu uma espécie de padrão nas histórias que eram contadas neste tipo de cinema, ou seja gags espontâneos e de caráter clássico que, não importando em que período são vistos, as piadas são compreendidas.  E esse padrão foi mantido até meados dos anos 1910, quando a procura por novos mercados fez com que os animadores buscassem novos recursos, inclusive na própria arte pictórica, o que possibilitou um crescimento técnico e visual considerável neste tipo de cinema.
É neste período que alguns dos personagens mais icônicos da animação são criados, como Popeye, Betty Boop e o Gato Félix. É neste período também que Walter Elias Disney começa a mexer com as técnicas de animação e logo se torna uma referência ao ser capaz de unir a animação com a crescente necessidade do cinema de contar uma história.
Walt Disney percebeu que as histórias ainda eram muito pobres e que isso limitava a animação às histórias bonitinhas e engraçadinhas dos personagens que já existiam. Procurando um refinamento e uma experimentação de técnicas (que incluíam o som e a cor), a animação conseguiu ganhar grande destaque na década de 30. Segundo Howard Beckeman (2003) “era difícil que algum estúdio conseguisse um trabalho como o de Disney devido ao seu cuidado meticuloso com as histórias, efeitos sonoros, música e cor”, isto sem contar com o que esperava pelo cinema no ano de 1937: o primeiro longa-metragem em animação. (Vamos falar sobre isso em outro post ;D)


E para um garoto com problemas com o pai, inocente em vários sentidos, mas genial em muitos outros, nada melhor do que criar personagens e lugares que só existiam nos seus sonhos e transportá-los para o mundo externo. Para onde “os procedimentos da câmara correspondem aos procedimentos graças aos quais a percepção coletiva do público se apropria dos modos de percepção individual do psicótico ou do sonhador.” (BENJAMIN, 1994; p. 190).

*Parte do segundo capítulo do meu TCC

Noite passada

Qual é o pior tipo de traição? Aquela traição carnal que apenas satisfaz um desejo animal que existe no ser humano, ou aquela traição que, mesmo sem qualquer toque sexual, envolve uma série de sentimentos verdadeiros e profundos? Bom, à princípio nem é isso que parece ser a discussão trazida no filme "Apenas uma noite" escrito e dirigido pela iraniana Massy Tadjedin, mas ao longo de uma análise de um casamento balançado pela dúvida e insegurança, o drama romântico que se resumiria a ciúmes, mentiras e lágrimas, ganha um final sugestivo e uma sensação de identificação humana muito peculiar.

O roteiro gira em torno do casamento de Michael e Joanna, que estão casados há cinco anos, mas estão juntos desde a faculdade. Durante uma festa do trabalho de Michael, Joanna nota uma aproximação muito intensa entre seu marido e uma colega de trabalho, Laura e pressiona Michael para que ele lhe diga se sente algo pela moça. Os dois passam boa parte da noite discutindo, até que Joanna assume que exagerou. Os dois voltam a se entender, mas Michael precisa viajar a trabalho.
No mesmo dia em que Michael viaja a trabalho com Laura, Joanna reencontra um grande amor do passado, Alex, um homem de postura galante, mas duvidosa, que mesmo depois de anos longe de Joanna, não consegue esquecê-la, por isso vive uma realidade de boemia e mulheres. A partir daí, "Apenas uma noite" nos leva em uma viagem de cortes, onde o casal principal e seus respectivos acompanhantes de uma noite nos faz questionar seus princípios de certo e errado, bem como nossos próprios princípios, em diálogos inteligentes e situações enlaçadas que chegam a ser desconcertantes de tão possíveis.
Laura é "pura e simplesmente" a femme fatale do filme, esquenta os diálogos com o centrado Michael o tempo todo e fica clara a sua intenção de dormir com ele. Enquanto isso, Joanna é insegura demais, inclusive para admitir para si mesma que está enrolada com Alex. Essas personalidades se chocam e são reveladas escancaradamente para nós, que nos identificamos um pouco com cada um deles. As personagens vão se envolvendo entre si em duas tramas diferentes, mas ligadas pela traição. Enquanto Michael e Laura se envolve pelo puro e simples desejo, Joanna e Alex tem uma história, um amor mal resolvido e a escolha de ambas as partes, que claramente parece ser motivo de arrependimento deles.  
Além disso, a ideia de que uma noite é capaz de mudar tudo, ou simplesmente não mudar nada é permanente no filme, sendo talvez o ponto principal do filme que, entre mentiras (para si e para os outros), inseguranças e questões mal resolvidas, "Apenas uma noite" nos deixa levemente incomodados, principalmente com o final, completamente aberto e sugestivo ao estilo: "Faça dele o que quiser", então o que faria dele?

Longa vida ao meu reino.



Eu sou uma princesa. Este vídeo faz parte de uma campanha publicitária feita pela Disney para reacender a chama do que é ser uma verdadeira princesa, e ainda serviou para quebrar com alguns preconceituosos que diziam que a empresa não se atualizava. Basta Olhar para as últimas produções para ter certeza de que isto não é verdade.
Eu sou uma princesa. E você?

Tradução do vídeo:
Eu sou uma princesa
Eu sou valente algumas vezes
Algumas vezes sou medrosa
Mas as vezes sou valente, mesmo estando com medo
Eu acredito em lealdade
E confiança.
Eu acredito que a lealdade é construida na confiança.
Eu tento ser gentil
Eu tento ser generosa,
Eu sou gentil mesmo quando os outros não são generosos

Eu sou uma princesa
Eu penso que defender a mim mesma é importante
Eu penso que defender os outros é mais importante
Mas estar com outros é o mais importante.
Eu sou uma princesa.
Eu acredito que compaixão me faz mais forte
Gentileza é poder
E a família é a maior ligação de todas.

Eu já ouvi que sou bonita
E sei que sou forte
Eu sou uma princesa,
Longa vida ao meu reinado.

São todos belos

Baseada na série homônima da década de 80, a nova aposta da CW para o horário nobre começou a ser exibida esta semana nos Estados Unidos: A Bela e a Fera.

Afinal, quando ouvimos falar da clássica história da Bela que se apaixona pela Fera, somos direcionados a lembrar do filme da Walt Disney Studios de 1992, porém a história deste casal inusitado é tão antiga, ou mais, que Branca de Neve (por exemplo) e também descende da tradição oral. Alguns estudiosos apontam que ela descende da mitologia russa, outros que é apenas uma reinterpretação da história grega de Eros e Psiquê. Mas é bem possível, na verdade que seja uma mistura bem sucedida das duas coisas, pois conforme estas histórias viajavam, carregavam consigo todos os ensinamentos e contextos sociais das mais diversas culturas que tiveram contato. Nunca perdendo, no entanto, as premissas de "nunca julgue um livro pela cara" e "nem tudo é o que parece ser".
A partir dessas premissas a história se multiplicou chegando aos mais diversos cantos do mundo e basicamente com as mesmas formas, o dito estranho (e as vezes impossível) amor entre a moça mais bela de todas e uma fera feia e perigosa. E entre todos esses cantos do mundo, "A Bela e a Fera" conseguiu chegar em Hollywood, onde esta história pode ser contata na grande tela e tamém na pequena. Em 1987 a empresa CBS apostou em um seriado baseado na história de A Bela e a Fera, mas que dava a ele uma pegada mais moderna, com personagens de nomes diferentes (Catherine e Vincent), sem músicas bonitinhas e na verdade visando uma relação mais de essência entre os personagens, de forma que, por exemplo, a Fera não fica "bela" no final.
A série foi um sucesso na época e mesmo depois da morte da primeira Bela, sendo substituida por outra atriz (sendo outra personagem) o enredo se perdeu, de forma que durou 4 temporadas. Destino que eu não acredito que vá se seguir para o remake de 2012.
A história não parece ter profundidade e todas as minhas perguntas foram respondidas no primeiro episódio. As personagens não são marcantes e muito menos te deixam instigados com os seus passados. A Fera não é feia, na verdade o termo "fera" está mais relacionado ao seu comportamento à lá Hulk quando está irado, sendo que não é nada difícil um amor entre eles.
A verdade é que o maior dos ensinamentos dessa história se perdeu e a série está seguindo para um lugar muito visitado por outras séries, como CSI, Bones e outras: o lado policial da força. Sendo assim aposto (e realmente posso estar enganada) de que a série vai se alongar em episódios onde a Bela precisará resolver crimes e, é claro, a Fera vai ajudar; os dois vão se apaixonar, mas vai ter todo aquele drama de descontrole e o relacionamento deles vai sendo adiado o máximo possível. O mesmo vai acontecer com o mistério dos militares que perseguem Catherine e mataram a mãe dela: vai ser esquecido até os últimos episódios, esperando que isto vá manter a série.
Pois é, fraquinha e dispensável na programação de qualquer um, "A Bela e a Fera" não está entre as minhas apostas para uma longa próspera vida, bem diferente do conto, não?! 

A pesquisa viciada

Sabe como tem gente que fala de ouvido, paladar e ponto de vista viciados? Pois é, nessa vida minha de pesquisa, muito recente diga-se de passagem, percebi que existe pesquisa viciada.

Pois é, toda pesquisa começa com uma ideia, a partir dessa ideia você começa a pensar em possibilidades para abordá-la, pesquisadores que podem te dar um suporte teórico excelente e formas de conduzir a análise para que você consiga chegar em algum lugar. O ideal é quando esse lugar ainda é desconhecido, pois aí que a pesquisa fica interessante. Fica suculenta de se fazer, te conduz de uma forma inebriante e ela mesma te faz encontrar alguma resposta, bom, as vezes nenhuma resposta, mas com certeza algo para dizer e considerações para se pensar.
O esquisito, no entanto, é que nesse pouco tempo em que posso me ver, de fato pesquisando, notei que ao contrário de se deixar levar pela pesquisa, na verdade esses "pesquisadores" já começam a análise sabendo para onde ela tem que ir, conduzem-na em uma rota de visões picotadas, enchendo de colagens de interpretações já batidas, achando que se trata de alguma novidade, ou pior que isso, achando que assim, se constroi conteúdo.
Como disse, não tenho muito tempo assim na pesquisa, nem mesmo me considero uma pesquisadora de fato, mas se tem uma coisa que já aprendi neste tempo é que acrescentar algo na bibliografia, só por acrescentar, é o mesmo que ofender os muitos outros pesquisadores (de fato) que desenvolvem um trabalho sério, coerente e que buscam novas perspectivas em uma visão já conhecida.
Já chega de artigos que tentam provar que nos Contos de Fadas clássicos as mulheres são submissas e abestadas, que não se tem um aprendizado real, pois ensinaria as meninas a desenvolverem complexos de donzelas em apuros; já chega de trabalhos que usam da psicanálise de Bettlheim para afirmar que os contos são importantes para o desenvolvimento infantil; já chega de papers que reduzem os Contos de Fadas a narrativas ultrapassadas e desqualificam as versões de Walt Disney, dizendo que elas "congelariam" o seu formato original de narrativa multável. Já deu! Tem muita coisa repetita, muita ideia compactada, muita fala reduzida a uma análise de fala fácil. Nenhum análise é fácil, se fosse não teria graça se pesquisar.
O tal do congelamento dos Contos de Fada, causado pela Walt Disney Pictures.
Colegas que pesquisam Contos de Fadas, se querem falar sobre a identidade da mulher, não falem de forma anacrônica, as versões clássicas são reflexos de seus momentos sociais e se levar isto em consideração, estes contos não estavam fazendo mais do que a sua obrigação (de educar). Se querem falar sobre psicanálise leiam o livro de Bettelheim inteiro, suas análises são densas e não dá para reduzí-las a pedagogismos simplistas. Se querem falar de Walt Disney conheçam a sua história, suas obras, suas contribuições para o gênero de Contos de Fadas, dizer que o cinema disneyano congelou essas histórias não só é um discurso de crítica fácil, como também não confere, caso contrário não teríamos as várias outras versões que se desmembraram e continuam desmembrando ao redor do mundo.
Ao final, considerem o seguinte: o ponto principal dos Contos de Fada é o ensinamento, é a moral da história, é o que se apreende dessas histórias, não as representações arquétipas de um dado período, ou o desenrolar da trama. Estes se modificam, se adaptam e sobrevivem. Sempre o fizeram e sempre o farão.

Grace, a princesa.

Já fizeram filme sobre Marilyn, sobre Katherine, sobre Betty Davis e Audrey Hepburn. Cadê algum que fale da vida de Grace Kelly? Uma princesa, uma lady, uma musa. Grace é lembrada com carinho pelos adoradores de cinema, os fashionistas de plantão e os apreciadores de uma boa história para contar.

Aos que só conhecem o belo rosto de Grace pelos filmes "Disque M para matar" e "O Ladrão de Casaca", e nunca se aprofundaram mais sobre a vida desta mulher, provavelmente não sabem que Grace se casou com um príncipe, é considerada a princesa mais bonita da atualidade e ainda por cima teve uma morte trágica em um acidente de carro.
Fora esses pontos que fizeram parte da sua história pública, Grace Kelly participou dos bastidores de tensões políticas insitadas pelo líder francês Charles De Gaulle, que criticava intensamente o fato do principado de Mônaco ter ser tornado uma espécie de paráiso fiscal. E foi neste momento que o filme Grace of Monaco, com previsão de estrear em 2014, se firma.
Por enquanto o filme tem um orçamento de 15milhões de dólares, mas já está enchendo os olhos dos cinéfilos de plantão, pois além de falar de um dos ícones da 7ª arte, ainda conta com a bela e talentosa Nicole Kidman no elenco, inclusive no papel principal. Apesar de não serem exatamente iguais, Kidman tem o mesmo tipo de beleza clássica e sofisticada que Grace possuia. A direção está por conta de Olivier Dahan, o mesmo que dirigiu Piaf, então não podemos esperar um filme sem a alta dose de dramaticidade e intesidade.
Além dos atrativos do filme em si, será interessante poder ver Grace Kelly sendo prestigiada para além de sua beleza e seus papéis no cinema, posando para fotos e recebendo prêmios. A expectativa é por um Grace cheia de vitalidade, espírito e decisão. Uma mulher que tomou as rédeas do seu país, mesmo que por trás dos holofotes e lutou para que o seu lar não fosse comprometido por um movimento político.
Sua história não pode ser esquecida e, na verdade, merece ser reconhecida. Ela tinha prestígio, tinha popularidade, era querida e admirada. Poderia ter ser acomodado, mas não. Tornou-se mais do que uma atriz que virou princesa, foi na realidade uma princesa que em algum momento foi atriz.