ºoºscar Disneyano

Nestes mais de 80 anos de existência, a comemoração do Oscar tem um vencedor que todos os anos compete e todos os anos leva para casa pelo menos uma estatueta.
The Walt Disney Studios detém o posto de grande vencedor, com 62 indicações ao Oscar e 27 prêmios (números atualizados ontem a noite). Suas premiações são variadas também, incluindo Oscars de melhor filme de animação, melhor trilha sonora, melhor música original, melhor documentário, melhor curta e também Oscars honorários.
Este ano, no entanto não foi um ano muito bom para a empresa, que só faturou um prêmio, apesar de estar concorrendo 17 vezes (sendo que a maioria eram de filmes que são apenas distribuidos pela Touchstone). Sua linha de Frente que era o filme "Cavalo de Guerra", acabou indo para casa com as mãos abanando; e "Muppets" desbancou "Real in Rio" de Sérgio Mendes e Carlinhos Brown, como o único prêmio da Disney neste ano.
Pela primeira vez também a Disney não concorreu na categoria de melhor animação. Acabou "desbancada" por filmes da Dreamworks e estrangeiros. Rango foi o vencedor da categoria, com a sua animação para adultos. Cada vez mais (mesmo depois de tantos anos de existência) a animação vai ganhando espaço como filmes adultos. Cada vez mais as pessoas estão se permitindo ir ao cinema para ver um filme em desenho animado. Acho que Walt Disney ficaria orgulhoso, mesmo que a sua empresa não estivesse concorrendo.

*Confira a lista de Oscars que a Disney já ganhou: clicando aqui
*Vale saber também que: Foi Walt Disney que, em 1933, usou pela primeira vez em público a palavra Oscar para designar o prêmio anual da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood.
*Vale conferir também:
Os cinco momentos mais marcantes de Disney na premiação

*Os prêmio honorários que Walt recebeu foram por:
      Pela criação de Mickey Mouse (1932)
      "Para Branca de Neve e os Sete Anões , reconhecido como uma inovação significativa em tela grande, e  que tem encantado milhões e foi pioneiro de uma nova área de entretenimento"(o prêmio foi uma estatueta e sete estatuetas em miniatura) (1939)
     "Por sua extraordinária contribuição para o avanço do uso do som no cinema através da produção de Fantasia" (1941)
       "Prêmio Irving G. Thalberg, que é entreque a produtores criativos, cujo principal trabalho reflete constantemente uma produção de filmes de qualidade". O troféu para o agraciado é um busto de Thalberg ao invés da familiar estatueta Oscar. (1949)

Especial Bonequinha de Luxo - Parte I

A Holly que vai Levemente


"Ao criar Holly, Truman descobria que, embora tivesse muitas qualidades das mulheres que ele conhecia, ela era diferente de qualquer mulher que que havia encontrado. Ela dizia o que queria, fazia o que queria e ao contrário dos cisnes, se recusava terminantemente a casar e assentar." (Sam Wasson)


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Capa do livro em sua comemoração de 50 anos.
Em meados da década de 50, Truman Capote escrevia o célebre romance Bonequinha de Luxo que, não só deu a ele a imortalidade literária, como deu a Audrey Hepburn o papel de sua vida e à mulher pós-moderna ascendente um motivo para se orgulhar de ter uma vida diferente e de levantar um causa (com classe), até então considerada underground.
Antes de entrarmos mais profundamente no que é ser Holly, é preciso entender o que ERA ser Holly naquele tempo. Estamos falando da década de 50. Período pós-guerra e inserido em um contexto de bipolaridade, em que os estadunidenses temiam deliberadamente uma invasão bolchevique.
Além disto, a sociedade estava voltando a se estruturar e certas definições sociais precisavam ser reafirmadas. O que significa que de repente aquela mulher que durante a Segunda Guerra precisou vestir calças e prover pela sua família, enquanto o marido estava nas trincheiras, era recolocada na cozinha delimitando o que poderia ou não fazer.
Já no cinema, ou você era uma Doris Day ou uma Marilyn Monroe. As mocinhas não faziam sexo (Doris). O que implicava que sexo era algo que só as Femme Fatales (Marilyn) e Vilãs faziam e no final destas histórias elas se arrependiam e concluiam que o melhor lugar para estar era dentro de casa.
Enquanto os Estados Unidos estavam em guerra com os seus impulsos mais naturais, endemoniando cada pequeno traço que remetesse ao sexo ou a liberdade dele, Truman Capote andava com seus cisnes para cima e para baixo. Cisne era como o escritor chamava suas amigas da alta sociedade do país, aquelas socialites que pareciam ter a vida perfeita. Porém, o que Capote pode perceber era que na verdade suas vidas eram tristes e infelizes, principalmente no quesito amor.
Baseado nas vidas destas mulheres e com uma pitada do que a sua mãe sonhava em ser e alcançar, Capote começou a criar o esboço do que viria a ser Holly Golightly.
Em Bonequinha de Luxo, Capote escreveu sobre uma Holly que tinha 18 anos, era magricela, sincera de mais, dona de um gato que se chamava Gato e que vai (go) de homem em homem levemente (lightly). Era uma prostituta de alta classe, livre para decidir e ser o que bem entendesse. Era o reflexo de uma mulher sedenta por autonomia. De poder cortar o cabelo quando/como quisesse e falar de transas abertamente com suas amigas.
Holly era tudo isso e ainda tinha o companheiro perfeito para ela, seu narrador sem nome e Gay. Aqui, vale ressaltar que a relação de Holly e "Fred" (como era chamado por Holly) era do tipo platônico. Eles não e desejavam carnalmente, financeiramente ou mesmo romanceadamente. Apenas queriam estar um com o outro. Sem qualquer uma das amarras sociais pré-impostas (como o casamento), os dois podiam se amar livremente e ternamente.
"Ao desafiar a santidade do domínio heterossexual, Capote sugere que os rigores de gênero podem não ser tão enriquecedores quanto o romance  entre um homem gay e uma mulher hétero. Isso não porque ele acreditasse que relações platônicas fossem o ideal, mas por achar que ser como as esposas americanas de 1958 era ser um eufemismo de prisioneira." (p.88).
Holly, "Fred" e toda a lógica em torno da história de Bonequinha de Luxo parecia mais do que aquela sociedade estava preparada para aceitar. Ou será que não?!
Quando terminou o romance, Capote tentou publicá-lo (duas vezes) pela Haper's Bazaar, porém os editores acharam o romance e principalmente a sua heroínas risqués demais para a revista. E Bonequinha acabou sendo publicado pela Esquire, uma revista em ascensão e que pagou gordos 3mil dólares pela história.
Logo o romance virou um sucesso, mesmo que entre aqui e ali ele recebesse críticas negativas, o estilo e a acidez bem dosada de Capote eram reconhecidos e aclamados. 
Entre as mulheres, tanto as da alta classe, quanto as moçoilas que vinham de vários cantos do país tentarem a sorte em Nova York, todas queriam ser Holly. Queriam viver aquela liberdade sexual, andar pela cidade às cinco da manhã comendo um begel, vestindo preto e admirando a Tiffany's. Holly podia até ser uma "mulher da vida" mas ela tinha um je ne sais quoi que lhe inspirava glamour e tão sonhada liberdade.
"Não que Holly fosse uma polemista. Ela nunca subiria num caixote para defender nada que não fosse se divertir. Mas em seu leviano amor pela individualidade, quer saiba, que não, Holly ressoa com o fervor de uma nova geração." (p. 94)
Geração esta que foi surpreendida anos depois com a adaptação cinematográfica do romance que teve como estrela principal uma das atrizes mais virginais da época: Audrey Hepburn.


*Texto em que foram tiradas as citações: "Quinta Avenida, 5 da manhã: Audrey Hepburn, Bonequinha de Luxo e o surgimento da mulher moderna" de Sam Wasson e da editora Zahar. (presente das lindas Maddie e Lora)

Sobre o "congelamento" de Contos de Fadas


Entre as muitas leituras que eu tenho feito para o meu TCC dentro da temática "Contos de Fadas", 80% delas reclamam de uma observação que fizeram durante seus anos de análise: o "congelamento" dos contos de fadas.
Segundo pesquisadores como Socorro Vilar, Bruno Bettelhein, Maíra dos Santos e Maria Christina Wenzel, quando estas histórias foram readaptadas, principalmente pela Walt Disney Studios, ela perdeu uma característica muito importante que a mantinha por tanto tempo vigente: a sua possibilidade de ser recontada.
Antes de mais nada é essencial explicar para os leitores que nunca pesquisaram contos de fadas, que as histórias tradicionais vieram da cultua oral. Muitas delas viajaram quilômetros e quilômetros até serem transcritas e guardadas como registros para a posteridade. Nunca saberemos ao certo como a maioria das histórias eram trasmitidas dentro do seu desenho original, uma vez que iam sofrendo adaptações conforme o tempo e o contexto mudavam. Estes contos podem ter vindo dos mais diversos cantos do mundo, por exemplo: poucas pessoas sabem, mas a história "O príncipe sapo" vem da cultura oral africana e era uma história consideravelmente diferente da transcrita pelos irmãos Grimm e ainda mais diferente da adaptação feita pelos estúdios Disney em "A Princesa e o Sapo" (2011)
Conforme o tempo foi passando é claro que novas histórias foram contadas e novas interpretações foram dadas, principalmente no que diz respeito aos finais dos contos; normalmente os finais dos contos de fadas eram violentos e por muitas vezes cruéis. Assim, os finais e as partes violentas das histórias foram sendo diminuidos com a linguagem em que as histórias eram contadas, de forma que o tom era outro, mas a mensagem (a chamada "Moral da História") ainda era mantida, pois era este o objetivo delas.
Em 1937 Walt Disney lançou o primeiro longa metragem em animação e ainda de quebra lançou a primeira adaptação cinematográfica em animação de um conto de fadas: Branca de Neve e os Sete Anões.
Assim, versões disneyanas atrás de versões disneyanas foram feitas, retratando de forma infanto-juvenil e adorável aquelas histórias, retirando quase que completamente os momentos de violência, assassinatos e crueldade através de readaptações destes instantes por situações menos "traumáticas".
Ao fazer isto, mal Walt sabia que ele estava criando uma espécie de redefinição destas histórias.
Pense comigo por um instante, quando você pensa em Cinderela não pensa automaticamente na mocinha loira, de olhos azuis, vestido bufante da cor de seus olhos e um sapatinho boneca de cristal? E na Ariel? Sempre será a ruivinha de conchas roxas e calda verde, correto?!
Então, os estudiosos que eu disse no começo deste post acreditam que este congelamento dos contos de fadas também seriam os responsáveis pela consagração de estereótipos em relação às figuras femininas e masculinas, entre os quais o mais comum é aquele que representa a princesa sempre esperando o príncipe, além do desconhecimento das histórias originais.
Agora por que será que aconteceu tal "congelamento"? Ou melhor, será que o "congelamento" existe realmente?
De fato a conexão da produção disneyana como elemento determinante das personagens é inevitável, mas algumas coisas precisam ser pontuadas:
1 - as adaptações disneyanas foram as primeiras a darem o elemento visual aos contos. Mesmo que antes os livros infantis já viessem com desenhos ilustrativos, o apelo não era tanto quanto ver um filme inteiro que conta uma história com personagens que de fato fazem aquilo que no livro só se descreve.
2 - É muito fácil culpar a Disney pela estereotipação de personagens, porem esquecemos que assim como acontece em todas as histórias, existe uma influência muito grande do contexto social do momento em que elas são "criadas". No caso dos desenhos mais antigos (Branca de Neve, Cinderela e Bela Adormecida) as personagens foram concebidas em meio a uma série acontecimentos sociais que foram refletidos em suas personalidades, por exemplo a revolução feminina ainda não tinha acontecido, a postura social da mulher era outro (o de ser prendada e boa mae e esposa), assim mesmo como ocorre com as personagens mais recentes (Mulan, Tiana e Rapunzel) que parecem se encaixar no nosso contexto atual de independência feminina e ousadia de mercado.
3 -  O caráter pop e de massa que as películas disneyanas possuem é o que dá maior alcance às suas histórias, independente de se trataram de adaptações de contos de fadas, ou de reis leões e 101 dalmatas por terem vazão mundial se tornam referências e isto nada tem a ver com a falta de imaginação ou mesmo dizer que estas versões causam uma falta de imaginação em seus leitores.
4 - É sim possível se desvencilhar dos desenhos "congelados". Se é isto mesmo que se busca. Podemos citar o Shrek 3 que aparecem Cinderela, Branca de Neve e afins princesas com outros perfis. Assim como na série Once Upon a Time que as personagens nada tem a ver com as desenhadas pelas animações da Disney, nem mesmo em seus figurinos (mesmo que a empresa ABC, que produz a série seja da Disney).

E a provacação, foi o suficiente?!

Fantasia Solúvel


Um dos principais espetáculos do complexo Disneyworld na Flórida é o Fantasmic. Este show é a atração principal do parque Disney Hollywood Studios e, diferentemente dos outros espetáculos pirotécnicos noturnos dos parques, este se passa não apenas com luzes, animações e fogos, mas também na água e num palco múltiplo, entre bonecos, pessoas e armações mecânicas.
Na história que é contada no Fanstasmic temos o privilégio de poder entrar nos sonhos e lembranças de Mickey, enquanto ele nos leva através dos filmes clássicos da Disney e os que foram produzidos na década de ouro (entre 80 e 90). Viajamos juntamente com o camundongo entre os momentos mais mágicos destes filmes até que o sonho de Mickey se torna um pesadelo.
Sabendo que o rato está dormindo, os vilões Disneyanos resolvem juntar forças, invadir seus sonhos e transformá-los em pesadelos em que Mickey não poderia vencer. Enquanto isto, vemos tudo o que acontece dentro de uma posição privilegiada, mas que consegue nos transportar para aqueles momentos especiais que nos lembramos de ter assistido em algum lugar no passado.
Mickey usa uma de suas melhores roupas para nos receber no palco do Fantasmic, enquanto jatos de agua sincronizados com luzes e música representam o seu “sejam bem-vindos aos meus sonhos”. O rato é embalado pela emblemática música de Fantasia (1940) do Mickey Feiticeiro e então uma cortina de agua se abre a nossa frente.
Esta cortina não está ali para cobrir algo, na verdade ela está ali para servir de porta de entrada para todos que estão assistindo, poderem entrar no mundo dos sonhos. E enquanto o leque de agua se torna uma película somos convidados a entrar na história dos filmes da Disney. Passando por clássicos da floresta (Rei Leão, Mogli), por animais inteligentes e marcantes (Jimmy Grilo, A Dama e o Vagabundo, 101 dálmatas), até grandes personagens (Mulan, Alice, Mushu, Pinóquio, Dumbo).

Um dos momentos mais emocionantes (que eu, particularmente choro muito) é quando somos levados a passear pelas histórias das princesas e seus príncipes. Nesta parte temos uma Pocahontas no palco, na cena emblemática dela salvando John Smith da morte, enquanto o leque de água mostra aquele momento de amor verdadeiro que tem em todos os filmes disneyanos de contos de fadas e de repente em três barcos A Bela e a Fera; Branca de Neve e A Pequena Sereia nos dão um alô, enquanto um poutt-porri de suas músicas-tema nos embala e voltamos a crer em amor romântico. (gifs)

Sem a nitidez perfeita de um quadro de reprodução ou uma tela de cinema, a água traz um elemento de desfoque que torna a experiência ainda mais única e fantasiosa. Sendo a própria imagem insolúvel na água, assim como seria a fantasia.
É, definitivamente, um Must Go para quem vai à Flórida!

De Queridinho à Príncipe Negro




Uma das figuras mais emblemáticas no séc XX e talvez de imagem mais dúbia é Walter Elias Disney, ou Walt Disney.
Em poucos anos a sua imagem mudou diversas vezes, sendo celebridade local, queridinho da américa, empreendedor do futuro, gênio da animação, gênio do cinema, passando por embaixador da amizade, Disney War, Príncipe Negro americano, até chegar em mito, supostamente congelado para a posterioridade.
A verdade é que a figura do homem Disney se misturou tanto com o cineasta de animação e com o empreendedor do entretenimento, que ao fim de sua vida Walt era 8-80. Existiam pessoas que tinham verdadeira idolatria pelo homem/mito e o oposto era bem real, também.
Lendo o livro "Walt Disney: O triunfo da imaginação americana" de Neal Gabler, percebemos que muito da história do homem simples e provençal que conseguiu se tornar multimilionário foi transformado em boatos menores que pretendiam reconfigurar e até mesmo desconfigurar a imagem deste homem, transformando-o em símbolo das grandes coorporações e no pensamento puro capitalista.
Bom, o biógrafo não deixa de ressaltar que de fato de que Walt queria que a Disney, ou o mundo mágico que ele criou se tornasse muito mais que uma válvula de escape para a população sonhadora. Também queria que pudessem sustentar ele a sua família e empregados.
Sua mitificação como figura importante e, como já disse, emblemática teve muita influência a partir da sua personalidade carismática, ao mesmo tempo que isolada; e seu gênio doce, ao mesmo tempo que forte. Disney era este homem versátil. E conseguiu modificar a cultura norte-americana de formas que, talvez, apenas Chaplin tenha conseguido anteriormente.
"O crítico Robert Hughes atribuiu à Disney a invenção da própria arte pop, não apenas por seu olhar, que deixou como herança, mas também pela convergência da chamada arte erundita com a arte 'popular' e 'menos refinada'." (pag. 8*), Fantasia é um belo exemplo.
A Disneyficação urbana também foi causada pelas novas convenções deste brilhante homem, que reconfigurou completamnte a forma de recreação norte-americana, quando criou um parque temático tão fantasioso como o Disneyland (California) e o complexo Disneyworld (Flórida).
Mas como será que Disney passou de queridinho, a príncipe negro em menos de duas décadas?!
Neil Gabler opina, e eu admito que nunca tinha pensado desta forma, que por ser um homem naturalmente versátil, Dsney conseguia ter atitudes dúbias e simultaneas; significando que, ao mesmo tempo que Walt pensava em uma cidade totalmente tecnológica, que acompanhasse todos os avanços e usasse-os para viver melhor, ele também era extremamente ligado ao passado de seu país. Era nacionalista até 'dizer chega!' e transportava muito deste sentimento para suas produções.
"Um estudioso atribuiu a popularidade de Disney ao fato de ele ter cruzado a distância entre o 'populismo sentimental' da Grande Depressão, com sua crítica contundente à ordem social dominante, e o 'sentimentalismo libertário' da era da Guerra Fria, que veio para aceitar a ordem social. (...) Por outro lado John Gardner situa o seu trabalho em uma teologia cristã levemente secularizada de esperança e bondade. No ponto de vista de Gardner, Disney essencialmente, reinterpretou o cristianismo para a cultura de massa." (pag. 11)
De fato existem todos estes elementos no trabalho de Walt, e sua enorme popularidade é resultado da soma de coisas que parecem tão diferentes entre si e até tendências contraditórias, e transformá-los em um desenho apreciável e 'simples'.
Nos anos 20/30 Disney remodelou a arte da animação quando colocou som e cor nestes desenhos, e quando criou Mickey Mouse. Tornou-se uma celebridade da noite para o dia, com a fama de ser capaz de trazer o melhor das pessoas à tona, mas no final ele era amplamente identificado como degradação cultural e quase ninguem mais o levava a sério, pois diziam que a sua visão disneyana do mundo desfigurava clássicos e os tornava estáticos e infantis.
Uma das principais acusações feitas pelos intelectuais (e que ainda é feita por grande parte dos estudiosos de Contos de Fadas, que eu já li) é a de que ele "usurpou a imaginação individual e a substituiu por uma imaginação coletiva, homogeneizada, e promoveu o conformismo, a ponto das fronteiras da fantasia estarem fechadas." (pag. 15)
Mas até que ponto Disney era este exemplo primário do imperialismo cultural norte-americano?
É muito simples misturar o homem ao estúdio. Reduzí-lo e à sua história nas letras caricaturadas que viraram o símbolo da empresa. Será que é possível desmitificar este mito? Trazer a tona as diferenças existentes entre a commodity (construida em cima dele) e o homem?
Estas dúvidas permanecem, e, enquanto eu vou lendo um dos melhores presentes que eu já recebi, pretendo tentar respondê-las.
Ressalto logo de cara, que talvez o grande triunfo dele, foi a capacidade de mostrar, não só para os seus conterrâneos, para o mundo inteiro, como a imaginação pode vencer, pode tornar alguém mais forte e pode, finalmente, fazer sonhos tornarem-se realidade.

*Todas as citações foram tiradas do livro "Walt Disney: O triunfo da imaginação americana" de Neal Gabler.